domingo, 23 de agosto de 2009

JOSÉ "PEPE" PEÓN - 40 ANOS DE SUA ESTRÉIA NO MUNDIAL DE MOTOVELOCIDADE

O cubano José Peón foi um dos primeiros pilotos latinoamericanos a correr na Europa. Vamos ver como foi a sua estreía ...

Ao falar das primeiras participações de motociclistas latinoamericanos nos campeonatos mundiais de motovelocidade, é obrigatório mencionar José Peón, que na temporada de 1969 fez sua estréia no GP da República Democrática Alemã, também conhecida na época por Alemanha Oriental.

Peón, então com 24 anos de idade, é o escolhido para cumprir a tarefa de classificar na cheia e competitiva categoria 125 cc. Dispõe de uma MZ modelo RE, com motor dois tempos, e é assessorado pela mesma fábrica alemã. É um circuito que não conhece, na verdade, é a primeira vez que corre fora da ilha de Cuba. Mas, para a satisfação de quem confiava nele, consegue o objetivo de marcar um tempo mínimo para formar parte do pelotão de 40 pilotos, 23 dos quais chegariam ao final.

O GP da Alemanha Oriental, sétimo dos doze do calendário, se disputava no traçado original de Sachsenring, inaugurado nos anos 30, de 8614 metros, traçado que percorria entre as ruas do povoado local e as estradas circunvizinhas, onde as motos voavam a mais de 200 km/h, entre casas, cercas, árvores, postes de luz e de telégrafo, e rodeados por milhares, centenas de milhares de fãs. O programa, além das 125 cc, contava com as categorias 50cc, 250cc, 350cc, e a principal, 500cc.

"Chequei ao Mundial com muito pouco treino, mas consegui me classificar na minha primeira oportunidade, em Sachsenring, uma pista bem perigosa de verdade - lembra José Peón - Era a primeira vez que um motociclista cubano participava de uma competição internacional. Tinha apenas um ano que estava pilotando a MZ-RE, que o pessoal da fábrica alemã havia deixado em Cuba. Além de piloto, era o encarregado de administrar a oficina de motos de competição do Instituto Nacional de Esportes, e junto com a fábrica MZ, me deram a oportunidade de estrear no GP da Alemanha daquele ano de 1969"

"Em 12 de julho, cheguei à pista de Sachsenring às 8:00 h da manhã, e às 10:30 começaram as classificações, debaixo de um grande aguaceiro e a pista completamente encharcada. Eu consegui me classificar em 20º lugar, deixando para trás 21 pilotos de 5 países. Pensei que, por ser a primeira vez, e estar com piso molhado e muito frio, estive muito bem."

Na 125 a vitória naquela chuvosa jornada, disputada em 13 de julho de 1969, ficou com o inglês Dave Simmonds, que assim assegurava o seu primeiro e único título mundial. Era a quinta vitória do piloto da Kawasaki, que aproveitou as falhas mecânicas enfrentadas pelo alemão Dieter Braun, piloto que havia dominado toda a corrida até a volta final, quando sua Suzuki parou, incidente que obrigou ao piloto empurrá-la nos metros finais, cruzando a linha de chegada em décimo primeiro lugar.

Dave Simmonds completou as 12 voltas da prova em 43 minutos, 28 segundos e 7 décimos, com uma média de 142,6 km/h, prova que aconteceu em condições de piso molhado e muito frio. O pódio foi completado pelo austríaco Heinz Kriwanek, com uma Rotax, e pelo piloto local Friedhem Kohlar, e que foi o seu primeiro e único pódio em sua trajetória ao guidão de uma MZ-RE.

"Largamos com muita chuva. Na primeira curva, já estava em 9º, e na segunda curva, me passaram uma Kawasaki e uma Suzuki, e acabei fechando a primeira volta e 11º. Mas passando a linha de chegada, havia uma curva a direita e outra rápida a esquerda ... na minha frente iam 5 motos e me desesperei, e ao chegar a curva a esquerda, vinha a muita velocidade e a moto dançou e não pude controlá-la e bati contra os fardos, saltei da moto e caí sobre a grama, e a moto voltou para o meio da pista ...e assim terminou para mim, minha primeira competição numa etapa do mundial de 125cc. Se não tivesse caído, poderia ter chegado em 6º ou 7º ... " - lamenta "Pepe" Péon.

"A moto, depois de voltar para a pista, continuou e colidiu com uma árvore e foi totalmente destruída. Me colocaram numa ambulância, e eu perdia um pouco de sangue pelo nariz e como sabem, meu nariz "de fábrica" é um pouco aleijado ... o médico só dizia "PROBLEM" e eu como não sabia nada de alemão, dizia "NO, NO PROBLEM", e com o dedo tratava de dizer que essa corcova no meu nariz era natural. Só tive uma entrose no pé esquerdo. No outro dia foi ver-me no hotel o engenheiro Walder Kaaden (um tipo fantástico, inventor da válvula rotativa), e quando lhe perguntei pela moto, me disse: Moto de Pepe kaput ! Isso queria dizer que não servia para mais nada. E logo também disse: Pepe moto nueva. E continuei competindo em Cuba." - comenta Péon.

A participação do caribenho José Peón não só o convertia no primeiro cubano em participar de um GP de motociclismo, como também um dos primeiros latino-americanos em fazer-lo, lista que foi aberta em 1955 por um quinteto de pilotos argentinos, que foram dsiputar em Nurburgring, Alemanha. Um deles, Ricardo Galvagni, perdeu a vida durante os treinos da categoria 500cc ao tentar se desviar de uma ambulância que ia socorrer o também argentino Armando Poggi.

Apenas uma semana antes da chegada do homem à lua, os outros vencedores no GP da Alemanha Oriental de 1969, foram, Angel Nieto com uma Derbi na 50cc - sua primeira vitória em mundiais, a caminho do primeiro dos treze títulos mundiais-, o italiano Renzo Pasolini com uma Benelli na 250cc, enquanto o intocável Giacomo "Mino" Agostini, esmagava seus rivais na 350cc e 500cc, com a MV Agusta de fábrica.

A chegada de José Peón ao Mundial de 125cc se deu graças a uma estreita relação político-comercial que Cuba mantinha com a Alemanha Oriental. Em 1968, em Havana, se abriu uma delegacia comercial da RDA e de imediato começou a importação de motos MZ.

"No ano de 1968, chega a Cuba um técnico alemão chamado Host Fugner - recorda Peón - e nos deu um curso de pilotagem de competição e me escolhem para que pilote a moto MZ-RE que chegaria ao país nesse mesmo ano. Me entregaram a moto, competi em Cuba algumas vezes e aí me mandaram diretamente ao Mundial de 1969, em Sachsenring."

Os motores de dois tempos foram desenvolvidos pelo revolucionário engenheiro alemão Walder Kaaden, o homem que desenvolveu a válvula rotativa nos motores MZ, e compreendeu melhor que ninguém a importância das ondas de ressonância no sistema de escape, o que lhe permitiu ganhar vários cavalos de potência em seus motores. A fábrica alemã fundada em 1906 com base em Zschopau, é a principal rival das grandes empresas japonêsas como Yamaha, Kawasaki e Suzuki, e em 1968 consegue o vice-campeonato de marcas na 125cc, atrás da casa dos três diapasões.

Mas falar de motociclismo de velocidade naqueles tempos era sinônimo de muitas quedas, muitas das quais terminaram em saldo trágico. E em Sachsenring em 1969 não poderia ser uma exceção. No sábado, 12 de julho, durante os treinos da classe 350cc, o campeão mundial de 125cc de 1967 e 1968, o britânico Bill Ivy, teve a roda traseira de sua Jawa bloqueada pelo travamento do motor ... o pequeno e corajoso inglês bateu contra um muro e faleceu três horas depois no hospital.

"Quando eu fazia parte da equipe oficial MZ na temporada de 1971 na 250cc - lembra Peón - no final do treino para o Grande Prémio em Sachsenring na Alemanha Oriental, quando chego aos boxes pergunto pelo meu companheiro e primeiro piloto Gunther Bartusch. Um dos mecânicos me responde com um monossílabo germânico: Bartusch kaput . Pensei que tinha havido um problema mecânico e por isso não havia chegado, quando ele insistiu e disse novamente: Bartusch kaput... aí foi que entendi que ele tinha morrido."

Péon obtém seu melhor resultado em mundiais em 1970, ao chegar em sétimo lugar no mesmo circuito de Sachsenring. Em primeiro lugar chegou Angel Nieto, com uma Derbi, com média de 153 km/h.

O cubano José Peón soma 4 pontos pela sétima colocação a pouco mais de 3 minutos do vencedor. O caribenho se bate em um "sprint" final com os pilotos locais Hartmut Bischoff e Roland Rentzsch, separados por menos de 2 segundos, e todos ao comando de MZs.

Em 1971 Péon passa para a cetegoria 250cc, onde participa de alguma corridas em que tem como companheiros de equipe o ídolo alemão Gunther Bartusch (que como vimos, morreu nos treinos de uma prova), e o italiano Silvio Grassetti.

Após treze temporadas consecutivas, nas quais obtém 5 títulos nacionais e também uma vitória em 1972 no circuito de Peñuelas, no Chile, no Sulamericano de 125cc, José "Pepe" Péon abandona o motociclismo em 1973, mas só para imediatamente incorporar-se no papel de presidente executivo da Federação Cubana de Motociclismo, cargo que exerceu durante os dez anos.

Péon começa também a participar como árbitro e comissário desportivo nomeado pela Federação Internacional de Motociclismo (FIM) em provas de mundiais, e em 1975 é credenciado como diretor de corridas.

Durante quase três décadas Péon tem acompanhado e dirigido a nova geração de pilotos cubanos, grupo em que se destacaram, entre outros, José Lazo, Benigno Jull, e especialmente o pequeno e extremamente veloz Nirio Rivero, que alcançou o título latinoamericano da 125cc na temporada de 1993, além do vice-campeonato na 600cc Supersport em 1995.

Atualmente, o contador e professor de educação física José Peón, ocupa o cargo de presidente da Comissão de Velocidade da União Latinoamericana de Motociclismo (ULM), órgão que foi membro fundador em 1974, enquanto em final de julho estará presente na Guatemala, cenário da única prova do calendário continental de velocidade, da categoria Superbike.

Texto: Octávio Estrada (Venezuela)

Tradução : Ricardo Pupo

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