Em 1932, Campos era a 7º cidade no Brasil em número de habitantes, perdendo somente para Porto Alegre, Belém, Recife, Salvador, São Paulo e Rio de Janeiro (Distrito Federal na época).
Com economia ativa e dinâmica, era seguramente a capital econômica e cultural do Estado do Rio de Janeiro. No entanto esta situação não impediu que a crise da Bolsa de Nova Iorque afetasse também a região, já que a cultura do café também fazia parte de sua economia. Suas vias públicas já continham mais de uma centena de ruas e avenidas.
A três anos da comemoração dos seus 100 anos, a cidade de Campos viu surgir em 24 de Julho de 1932 o Moto Club de Campos.
Nossa história se inicia nas terras da extinta Usina de Açúcar e Álcool Sant´anna, de Propriedade do Coronel Manoel Ferreira Machado. Localizada em Cardoso Moreira, na época ainda era o 14º Distrito do Município de Campos.
Sobre um caminhão, estacionado sob uma generosa arvore, estavam um grupo de jovens que haviam ido a esta localidade por ocasião dos festejos que lá aconteciam. Entre um lanche que desfrutavam e conversas animadas sobre um prazer comum, motocicletas, foi proposta pelo senhor Luiz Falcão a este grupo composto por outros seis amigos a criação de um centro motociclista que teria como objetivos organizar passeios recreativos, piqueniques e bailes (Afinal de contas estamos falando do início do século 20).
Em sua formação original a diretoria foi definida da seguinte forma:
Presidente: Anthero Azevedo
Vice-Presidente: Luiz Falcão
1º Secretário: Antônio Gomes Tavares
1º Tesoureiro: Antenor Barros Pereira
2º Tesoureiro: Sebastião Gomes Tavares
Técnicos Mecânicos: Fidélis Duarte Florindo e João Antônio da Silva Tinoco
A entidade teve seu primeiro estatuto publicado no Diário Oficial do Estado em Agosto de 1940 e revisado em mais duas ocasiões (1960 e 2003). Foram inspirados nos estatutos do extinto Moto Club do Brasil.
Seus membros iniciais eram criteriosos na admissão de novos associados. A admissão era vinculada a proposta por escrito de um associado e apreciada em reunião por uma comissão de sindicância que averiguava a idoneidade do sócio proposto. A preocupação tem argumento no fato que não representamos somente o grupo, mas também a nossa Cidade.
As motocicletas eram inicialmente adquiridas nas lojas da Capital do Estado do Rio (Niterói), no Distrito Federal (Rio de Janeiro) e na maioria das vezes de terceiros. As primeiras lojas de motocicletas só surgiram na cidade a partir da década de 50.
Os passeios e viagens eram inicialmente dedicados a uma pessoa ou outra associação a qual o Moto Club de Campos tinha afeto, e que por ocasião do passeio eram previamente comunicadas de sua chegada. Nesta oportunidade a estadia e as refeições eram geralmente oferecidas pelo visitado e sempre retribuídas em nova oportunidade ou por meio de presentes e homenagens. Nas viagens mais longas ou em piqueniques, ao associado era solicitado que levasse seu provimento alimentício, o denominado farnel.
O Moto Club de Campos não foi o primeiro moto clube do País. Moldamos-nos a características e a organização estatutárias exemplificadas por outros MC´s do Estado do Rio e do antigo Distrito Federal, como o Moto Club do Brasil que era sediado na cidade Carioca e que tinha sua fundação datada de Junho de 1930.
Ainda na primeira metade do século XX, surgiam as confraternizações entre MC´s. Eram obviamente menores que os atuais eventos. Os visitantes tinham sua hospedagem, alimentação e demais necessidades totalmente cobertas pelo Moto Clube ou Federação anfitrião.
Os encontros entre moto clubes eram motivados pelos aniversários dos mesmos, porém a cidade de Campos teve seu primeiro esboço dos atuais encontros em Junho de 1947. Nesta oportunidade vieram a esta cidade grupos de motociclistas do Rio de Janeiro, Niterói, Itaperuna e Cardoso Moreira para prestigiar uma festa local que foi patrocinada por um integrante do Moto Club de Campos e que contou com grande apoio desta agremiação.
No fim da década de 40 começava a surgir as primeiras lojas que vendiam motocicletas e peças de Harley Davidson e BSA´s na Cidade de Campos, fruto do empreendedor Manoel Pinto da Silva Filho, que foi um dos presidentes do Moto Club de Campos.
Em 1955 o Moto Club foi reconhecida como utilidade pública municipal pela Câmara de Vereadores de Campos e sancionada pelo Prefeito Barcelos Martins.
As primeiras mulheres integraram a agremiação em Setembro de 1958, eram as companheiras dos associados que participavam como caronas nas viagens, competindo nas gincanas motociclísticas e nas demonstrações acrobáticas em motocicletas.
Em 1968 foi aprovado na Câmara Municipal de Campos e sancionado posteriormente pelo Prefeito José Carlos Vieira Barbosa o nome de Moto Club de Campos para uma rua situada no bairro no Parque Tarcísio Miranda. Isto era fruto do prestígio alcançado pela entidade naquela época.
No final da década de 60 não havia muitos eventos motociclístico e a instituição era vista por seus integrantes como promovedora de atividades esportivas e recreativas como gincanas e exibições sobre motocicletas. Com o intuito de se expandir estas atividades, que serviam também como integradoras de seus associados, foi criado um ativo departamento de pesca, que participava de torneios e gincanas dentro e fora do Estado do Rio de Janeiro. Esta foi uma das causas de divergências que culminou na dissolução de sua diretoria em 1985. Porém, a idéia de se extinguir o Moto Club de Campos, foi descartada pelos sócios que mantinham a esperança do Clube recuperar sua estima.
“Que a paixão seja eterna enquanto dure”. Parodiando o saudoso poeta, o Moto Club de Campos ainda existe porque é a paixão pela amizade e pelo motociclismo que o alimenta. Mesmo nos momentos mais difíceis de nossa existência, a persistência nos mantinha.
Com a dissolução da diretoria eleita o Moto Club de Campos passou a ser cuidado por Gerson Terra, que de forma interina, porém aguerrida, mantinha, somente ao lado do amigo e também associado Oswaldo “Vazinho”, o nome da agremiação e sua sede.
De forma humilde, porém solidária, administrava em nome desta agremiação, aulas de capoeira e futebol de salão, na quadra existente na sede para menores carentes que residiam ao redor do Moto Club de Campos. Gerson ocupava então o cargo de comissário de menores (função esta exercida durante 8 anos). O trabalho social realizado por Gerson Luiz contava inclusive com o apoio formal. Em ofício assinado pelo então Juiz da 2º Vara de família da comarca de Campos em 17 de Outubro de 1990, o Moto Club de Campos era estimulado a manter o programa social denominado "Liberdade Assistida” então representada por este importante baluarte.
O custeio para manutenção da sede vinha de aluguéis da mesma para festas, de doações próprias e de particulares.
Por meio do Gerson e “Vazinho” o Moto Club de Campos continuava a manter a participação da entidade nos eventos municipais, estampando orgulhosamente a bandeira a frente dos desfiles cívicos e na organização de motociclistas batedores para prestigiada corrida ciclística de São Salvador.
Em Agosto de 1997 surgia um jovem e vivaz grupo intitulado Condor. A sede do Moto Club de Campos não era o ponto de encontro deste grupo e sim a diversificada vida noturna de Campos. Os integrantes se reuniam em alguns restaurantes e bares com outros motociclistas, que recém adquiriam suas novas e potentes motocicletas aproveitando a abertura do mercado para importação e a nivelada e favorável cotação da moeda americana.
Em 1998 o Moto Club de Campos teve um novo presidente. Elson Gomes imbuiu o Moto Club de Campos da visão atualizada que cercava o período. Com o apoio dos associados Gerson Terra e Valmir Velasco, foram dadas impulsos que necessitavam para mais glorias. Foram idealizadas a nova e ardente logomarca, um site, iniciados os contatos por meio da Web, além da adesão de novos associados para reabertura da sede.
Os membros dos grupos já formados em Campos (Kaciques do Asfalto, Kabruncos e Condor) tinham boa relação com os do Moto Club de Campos. Os convites para que estas associações de Campos se unissem sobre a mesma bandeira eram constantes, quase como um flerte.
Em 21 de Abril 2001 o convite foi aceito por representantes do grupo Condor, sob a condição de que mantivéssemos nossa bandeira e os membros já integrados. Dividem a manutenção da sede e fazem parte da diretoria do Moto Club de Campos, porém como afiliados. O Condor foi formado por amigos, alguns de longa data, que viam em manter a grupo, antes de tudo, como um símbolo desta amizade.
Desde 1932 foram 24 presidentes no Moto Club de Campos distribuídos em 46 mandatos, além de centenas de associados em mais de 7 décadas.
Fontes:
· Livros de Atas do Moto Club de Campos
· Livro de Presença das reuniões do Moto Club de Campos
· Depoimentos de antigos integrantes
· Cópia do Diário Oficial de Agosto de 1940
· Estatuto do Moto Club de Campos
· Ofício da 2º Vara de família da comarca de Campos (Juiz Carlos Araújo)
· Registro Civil de Pessoa Jurídica do Cartório 1º Ofício da Comarca de Campos
· Acervo de fotos do Moto Clube de Campos
· Livro: “Um Pedaço de Terra Chamado Campos Sua Geografia e Seu Progresso” - Jorge Pereira Pinto
· Acervo Público Municipal de Campos dos Goytacazes
· Jornal “O Monitor Campista”
· Jornal “Folha do Povo”
· Jornal “A Cidade”
· Jornal “Folha do Comércio”
· Guia Geral da Cidade de Campos
· Livro: “Na Taba dos Goytacazes” - Hervé Salgado
· Pesquisa e texto de Fábio Luiz F. Gomes –fabiolfgomes@hotmail.com
Texto reproduzido com autorização http://www.motoclubdecampos.com.br